8 de fev. de 2013

É preciso convicção para a disputa de 2014, afirma Edson Brum

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Veículo: Jornal do Comércio


Brum observa que ainda não é o momento de se falar em nomes para a cabeça de chapa

Presidindo o PMDB gaúcho há cerca de um mês, o deputado estadual Edson Brum estuda os passos que o partido deve dar para atingir o objetivo principal da legenda nos próximos dois anos: construir uma candidatura vitoriosa ao governo do Estado em 2014. O peemedebista já adianta que pretende atrair partidos que estão na base do governo Tarso Genro (PT) para a formação de uma aliança, destacando o PDT, com o qual governa Porto Alegre, e o PSB. “A gente nota que o PSB está incomodado na aliança com o governo Tarso”, declara.

Porém, Brum observa que ainda não é o momento de se falar em nomes para a cabeça de chapa, pois entende que o partido precisa imergir em encontros regionais durante o primeiro semestre, além de realizar pesquisas qualitativas de opinião, para definir um programa a ser defendido em 2014. Só depois as discussões passariam para o plano dos nomes.

Dizendo que o PMDB tem muitas lideranças com qualidades para assumirem a candidatura ao Palácio Piratini - citando Germano Rigotto, José Ivo Sartori, Mendes Ribeiro Filho, Nelson Jobim, Cezar Schirmer e José Fogaça -, o presidente da sigla pondera que “o PMDB não quer mais buscar em casa o candidato”, numa possível alusão à postura hesitante de 2010.

Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Brum também fala da necessidade de o PMDB gaúcho se alinhar a uma candidatura à Presidência da República, avalia o papel do partido na oposição ao governo Tarso e diz que irá dar seguimento ao processo de profissionalização administrativa e política da sigla.

Jornal do Comércio - Na convenção que o elegeu, houve um esforço, até o último minuto, para que o presidente fosse escolhido por consenso. Por quê?

Edson Brum - Existem algumas pessoas dentro do partido que gostam de praticar o consenso. Então, tentaram de todas as maneiras. O consenso só se daria pela vontade da base. No ano passado, estive em 177 municípios diferentes, 451 visitas. Isso te dá uma percepção do que o partido está pensando, e o partido não queria consenso. O próprio consenso para a escolha da chapa do diretório não era a vontade da maioria, especialmente da base.

JC - A votação foi apertada: 37 a 34.

Brum - Eu tinha convicção de que eu faria (o percentual de) 60 a 40, no voto direto do delegado, pela mobilização, até porque nós tínhamos a bancada estadual fechada - todos os deputados estavam conosco -, e, também, o deputado federal Eliseu Padilha e o ministro Mendes Ribeiro Filho, que estavam na nossa campanha, na nossa chapa. Quando houve o consenso (de chapa única para compor o diretório), estreitaram-se as diferenças, porque o consenso foi feito em cima dos natos, que são os ex-presidentes, mais uma categoria inventada por cinco ou seis pessoas para ficar na chapa.

JC - O que é essa categoria inventada?

Brum - Seria algumas pessoas que pensam que estão acima dos outros. E foram colocados nomes expressivos ali, como o de José Fogaça, que não tinha sido presidente do partido, portanto não estaria em uma chapa ou outra, o próprio Luiz Roberto Ponte, Sebastião Melo. Ficamos na mão desses. A diferença se deu na mão desses. São 29 de uma chapa, 29 de outra, então empatou. A diferença se dá nesse grupo seleto do partido, nos cardeais do PMDB. Por isso que venci só por três votos. Tornou-se uma eleição um tanto quanto rinhada, muito disputada.


JC - E agora, quais são as metas?

Brum - O partido vem sofrendo uma transição que os tempos nos obrigam a fazer essa mudança. A profissionalização do partido, por exemplo. O Ibsen (Pinheiro) já começou, e nós vamos aprofundá-la. O partido tem de ser tratado com profissionalismo em todos os sentidos, tanto na gestão administrativa, quanto na gestão política. Não podemos mais simplesmente identificar uma liderança do PMDB e colocá-la como candidato a governador, sem antes saber para onde o partido quer ir. Isso passa por pesquisas internas e externas, qualitativas. Por exemplo, o que vamos querer discutir ano que vem na candidatura ao governo? Tem lideranças do partido que têm defendido que se enfrentem alguns gargalos, como o problema da Previdência do Estado, dos servidores, da infraestrutura. Então, isso tem que ser com pesquisas, com profissionalismo, não vai ser com “achômetro”. A reunião da executiva já nos autorizou a caminhar nesse sentido.

JC - O PMDB já tem nomes para 2014?

Brum - Antes de discutirmos nomes, temos que decidir o que nós queremos e para onde queremos ir. E isso a base do parido vai decidir. Vamos fazer encontros que vão envolver todas as coordenadorias regionais do PMDB, e também os setores - Juventude, PMDB Mulher, movimento cultural do partido, tradicionalismo etc. Isso até junho ou julho (deste ano), para, no segundo semestre, definir o nome. O nome vai ser aquele que tiver o perfil mais próximo daquilo que o partido pensa. Além disso, vamos trabalhar com pesquisas para não termos um candidato a governador descolado daquilo que a sociedade precisa.


JC - Há candidatos naturais?

Brum - Nomes surgem. O PMDB talvez seja o partido que tenha o maior número de nomes capazes de administrar o Estado. Podemos começar pelo ex-governador Germano Rigotto, pelo prefeito Sartori, que fez mais nestes últimos dois anos em Caxias do que Tarso Genro nos seus dois anos de governo. Temos o ministro Mendes Ribeiro Filho, o ex-ministro Nelson Jobim, Cezar Schirmer... Temos nomes expressivos. Isso vai acontecer ao natural nas discussões com o partido e nas participações efetivas deles. O PMDB não quer mais buscar em casa o candidato, mas quer que ele surja das ideias do partido.

JC - O que seria buscar em casa o candidato?

Brum - É suplicar para ele ser candidato. Isso não vai acontecer mais, o PMDB não quer mais isso. Todos os filiados concordam que só quem tem direito a isso é o senador Pedro Simon, pela história que tem.

JC - Com quem aconteceu isso? Foi com o Fogaça?

Brum - O Fogaça é vítima de um processo malconduzido pelo partido. Nós deixamos para a última hora uma baita liderança, capaz, que fez um excepcional governo em Porto Alegre, tanto que o seu projeto foi reeleito com o Fortunati, e acabamos por tirá-lo da prefeitura no final do prazo, porque o partido não discutiu como deveria, com as bases, e deixou para a última hora. Fogaça é vítima do processo e pode ser nosso candidato a governador. Tem capacidade e já demonstrou isso, não só no Parlamento, mas também como prefeito.

JC - O PMDB e o PDT estão juntos na prefeitura há oito anos e começam um novo governo com Melo de vice-prefeito. Essa relação facilitaria uma aliança para 2014? 

Brum - O PMDB vai conversar com todos os partidos que queiram dialogar. Nós teremos candidato a governador. Vamos construir nesse primeiro semestre um programa mínimo que nos leve ao Piratini, um pré-programa eleitoral, para poder até identificar o perfil daquele administrador que queremos para o Palácio. Vamos trabalhar para que a gente possa ter um nome identificado, um trabalho forte do partido, e que seja um candidato representante daquilo que a gente pensa. O candidato a governador não é maior do que o PMDB. Vamos buscar outros partidos para compor. Temos preferência, sim, até porque o PDT já foi nosso parceiro há dois anos, e nós cumprimos tudo com o PDT, inclusive nas eleições municipais de Caxias e Porto Alegre. Se não fosse o PMDB, o PDT talvez não estivesse na prefeitura. É um parceiro nosso, temos alianças com o PDT em dezenas de municípios gaúchos. Também vamos procurar fazer uma visita e conversar com o PSB. A gente nota que o PSB está incomodado na aliança com o governador Tarso, tem um desgaste, e nós vamos procurar o PSB, além de outros partidos, como PPS, PRB.

JC - Já existe alguma negociação com os partidos?

Brum - Oficialmente, não. Nos bastidores a gente sempre conversa. Mas ainda não fizemos isso oficialmente, até porque a primeira reunião da executiva aconteceu dia 7. Todos os passos que daremos serão conversados e debatidos na executiva, que deve se reunir duas vezes por mês, e com o diretório, que se reunirá uma vez a cada dois meses. Vamos criar fluxo de discussão. Não vamos deixar o diretório sem ser chamado e sem ser consultado.

JC - Uma das falas recorrente na convenção era de que o PMDB não podia ir para uma eleição estadual sem ter um alinhamento a uma candidatura nacional. 

Brum - Tenho convicção de que, se Fogaça tivesse decidido apoiar a Dilma (Rousseff, PT) ou o José Serra (PSDB), teríamos vencido as eleições. O Rio Grande do Sul não gosta de muro. Se depender de mim, vamos definir por uma candidatura própria ou vamos discutir quem apoiar. Em qualquer uma dessas circunstâncias, a maioria vence, e a democracia diz isso.

JC - O PMDB tem o vice-presidente Michel Temer no governo Dilma. O PMDB gaúcho apoiaria esta chapa à reeleição?

Brum - Primeiramente, temos que discutir. Defendo que apoie o que a convenção nacional decidir. Posso ser voto vencido, mas tenho que ir lá discutir. Não se pode é fazer o papel do avestruz e não discutir. Temos que alinhar com o PMDB e, internamente, fazer essa discussão.

JC - O PMDB deve ter candidatura própria à Presidência da República?

Brum - A minha vontade pessoal seria essa. Acho que o PMDB, pelo tamanho que tem, vai ter que ter candidato a presidente em algum momento. Essa discussão os delegados escolhidos para nos representar na convenção deverão fazer a nível nacional.

JC - Como avalia a atuação da bancada na Assembleia? 

Brum - É a maior bancada de oposição, a que melhor faz oposição e que é oposição mesmo, votando contra o governo naquilo que é ruim para o Estado, votando às vezes a favor, mas fazendo oposição propositiva. Todos os projetos de lei que nós apontamos como inconstitucionais o governo perdeu na Justiça. O remendo previdenciário, a questão do diretor da Agergs (Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados), o diretor do Irga (Instituto Riograndense do Arroz), por exemplo. Estamos indicando os erros e cobrando o discurso e a prática que o PT tinha - especialmente o Tarso Genro - e que agora mudaram. Eles criaram a república dos CCs (cargos em comissão), e agora pode, antes não podia. A conduta do PT em relação à corrupção era uma antes. A bancada do PMDB na Assembleia tem feito oposição consciente e responsável, mostrando que mentiram no período eleitoral, quando prometeram o piso nacional para os professores. Assumiram o compromisso, e não cumpriram, nem vão cumprir. A bancada do PMDB lidera a oposição na Assembleia e vai permanecer assim nos próximos dois anos.

JC - O candidato do PMDB ao governo do Estado vai defender o pagamento do piso do magistério indexado pelo Fundeb?

Brum - Fogaça não assumiu esse compromisso e perdeu a eleição. Temos que discutir com o magistério e com os servidores. Não dá para fazer promessas vazias para ganhar eleição e depois não cumprir. Isso é algo que nós vamos discutir no partido para que o candidato saiba o que falar com propriedade.


JC - O senhor vem da juventude partidária. Como percebe hoje a participação dos jovens na política?

Brum - Menos do que antigamente. A juventude do PMDB, especificamente no último ano, trabalhou muito, foi muito bem. O resultado é a quantidade de vereadores, vice-prefeitos e prefeitos jovens que o PMDB elegeu. O PMDB na última eleição renovou o partido.

JC - Como avalia a possível volta de Renan Calheiros à presidência do Senado?

Brum - Não deveria. O presidente deveria ser Pedro Simon, um desses senadores históricos do PMDB, com uma trajetória que não tem nada de que se falar.

Perfil

Edson Brum tem 47 anos e é natural de Rio Pardo. Está no terceiro mandato de deputado estadual pelo PMDB, partido ao qual se filiou aos 16 anos. Hoje é presidente estadual da sigla. Eleito em dezembro, ocupará o cargo pelos próximos dois anos. É o primeiro comandante do PMDB que emergiu das fileiras da Juventude, núcleo que presidiu entre 1995 e 1999. Em 1995, foi assessor de gabinete do governador Antônio Britto (na época, no PMDB). Em 2003, assumiu a presidência da Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos (FDRH), no governo de Germano Rigotto (PMDB). Deixou a FDRH em 2005 para assumir o mandato de deputado. Diz ter a política no sangue e vivenciá-la desde criança, pois seu avô foi prefeito, seu pai, vice-prefeito e vereador, e seu irmão, prefeito, todos em Rio Pardo. Na Assembleia, foi líder da bancada, em 2007, e líder partidário, em 2008. Presidiu a Comissão de Agricultura, em 2009 e 2010, e a Comissão de Constituição e Justiça em 2011.

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